Parece que passamos a vida decidindo, e, ainda que a maioria das
pessoas não tenha essa consciência, os momentos de decisão são,
também, momentos de ansiedade. Só que uma ansiedade que deriva de uma
coisa boa: a existência de mais de uma opção.
A rigor, a ansiedade de escolher é a de ser livre. Escolher é exercer a liberdade, com suas prerrogativas e responsabilidades.
E a liberdade só pode ser bem exercida por quem está preparado para
ela, ou seja, quem tem maturidade intelectual e emocional para tanto. A
liberdade é um valor adulto.
Poder escolher é uma conquista. Então por que às vezes sofremos com
isso? A escolha é um privilégio, o problema é a renúncia. E o que nos
martiriza são as renúncias definitivas ou aquelas que nos causam
insegurança. Para os mortais comuns, a escolha da carreira, por
exemplo, significa renunciar a uma grande quantidade de opções, talvez
melhores.
Então estamos condenados a conviver com a dúvida de termos feito a escolha certa? Se tomar uma decisão provoca ansiedade, muito pior é não ter a oportunidade de decidir.
Em inglês, escolher é "to choice", mas os americanos, sempre práticos,
utilizam uma expressão curiosa para falar sobre escolhas, especialmente
no mundo dos negócios, em que os executivos vivem tendo que tomar
decisões - "trade off". Mais do que uma escolha, a expressão "trade off" quer significar uma troca.
E a troca significa uma espécie de condenação determinista a que
todos estamos sujeitos. Afinal, não se pode ter tudo. Quer isto? Então
não vai ter aquilo! E lamba os beiços, porque tem gente que não vai
ter isto nem aquilo - parece dizer o destino, com seu olhar de
reprovação diante de nosso desespero.
É bem verdade que a tomada da decisão diminui a ansiedade, apesar da
dúvida. "É este, pronto!" - e vamos em frente. Ainda assim, sofremos
um pouquinho. Sociedades modernas, livres, democráticas, têm essa
qualidade – o cidadão tem de fazer escolhas diariamente. Trata-se de um
direito e até de uma obrigação.
Nos regimes totalitários, o Estado considera os cidadãos
incapazes de escolher seus próprios caminhos, por isso ele os tutela,
trata-os como menores irresponsáveis, que devem apenas concordar e
obedecer. São títeres nas mãos dos poderosos. E pensar que há famílias
que também são assim.
No mundo livre acontece o oposto. Quem se recusa a escolher os rumos de
sua vida vira uma espécie de pária, um estorvo para os demais. Sempre
lembrando que qualquer escolha pressupõe responsabilidade sobre ela.
Apesar disso, ter a oportunidade de escolher o que fazer com sua vida, no macro ou no microcosmo da existência, ainda é a melhor situação, disparado.
Não sei se a vida é curta ou longa para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas. Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, palavra que conforta, silencio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove. E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura enquanto durar.
segunda-feira, 11 de junho de 2012
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Vivemos numa era em que se tornou lugar comum dizer que não tem tempo e que está na correria. É ou não é verdade? Pense quantas vezes você...
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