domingo, 29 de maio de 2011

A nossa natureza impermanente, imperfeita, contingente, é uma afronta à perfeita simetria do universo.
A nossa inquietação e desasossego perturbam a solene sinfonía das esferas celestiais.
Não cumprimos, obedientes e temerosos, o nosso papel no cosmos, seja ele qual for.
A nossa auto-consciência conduz-nos a questionar o lugar que nos foi destinado e a transformá-lo.
E é isso que fazemos, e é isso que nos define: nós transformamos. Alteramos, inovamos, desarrumamos, destruímos, sim, mas também criamos "o que antes não existia" e tornamo-nos semelhantes a deus: o grande antagonista.
Lutamos permanentemente contra a ordem criada. De certa maneira, o homem é criatura mais paradoxal da criação. O erro de Deus?
Temos múltiplos exemplos de deuses que se arrependem de ter criado os homens e ponderam exterminá-los. O mais conhecido é o dilúvio bíblico, que, aliás, vem no seguimento de uma antiga série de relatos de dilúvios presentes na Suméria, no Egipto, na Índia, na América do Norte e em muitas outras culturas. Algo terá ficado na recordação dos homens do degelo e subida do nível das águas do mar da última era glaciar, há 18.000 anos atrás. Histórias velhas...

Estes dilúvios vêm inaugurar uma nova era, deixando para trás um passado primitivo e selvagem. São como um recomeço da criação.
À fúria divina sobrevive sempre um personagem de características excepcionais. Ou é um herói, no sentido clássico da palavra, ou o mais puro, ou o mais santo. Em todo o caso, sempre um escolhido, que representa o que de melhor existe na espécie humana.

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